Arautos em Portugal

Arautos do Evangelho – Associação Internacional de Direito Pontifício

Meditações do Fundador – Jesus é condenado à Morte

Jesus é condenado à morte

“Ele próprio carregava a sua cruz para fora da cidade, em direcção ao lugar chamado Calvário”.(Jo 19, 17)

“Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado”. (Is 53, 4)

Introdução

Durante esta Quaresma e, de modo especial, nos dias cheios dos imponderáveis sérios e graves da Semana Santa, acheguemo-nos aos pés da Cruz de onde pende o Salvador abandonado por quase todos – sobretudo neste século em que tantos e tantos homens só procuram o prazer e o bem-estar pessoal – e coloquemos nas mãos da Mãe Dolorosa, cuja alma foi trespassada pelo gládio da dor, toda a nossa entrega e disposição de padecer por Cristo e por Sua Igreja.

Oração inicial

Ó Virgem Dolorosa, nós sabemos que juntamente com Vosso divino Filho sofrestes as dores da Paixão. Vós sofrestes como Mãe, quase que na própria carne – porque mais dói a dor da alma do que a do próprio corpo. No caminho do Calvário, Vós encontrastes Jesus quando carregava a cruz às costas. Ó Mãe Santíssima nós Vós pedimos graças super abundantes, graças eficazes, graças até místicas para bem realizar esta meditação e que ela de fato possa, de alguma forma, reparar o Vosso Sapiencial e Imaculado Coração por tantos crimes, tantos horrores e pecados que ocasionaram a Paixão de Vosso divino Filho. Hoje, ao considerardes esses crimes, blasfémias, pecados, que vos recordeis das dores de Jesus e das vossas dores, em união com Ele.

Que essas dores penetrem em nossos corações e que cheios de arrependimento por nossas faltas, cheios de mágoa e ao mesmo tempo cheios de desejo de emenda para este mundo tão pecador. Alcançai-nos nesta meditação, a compreensão do quanto o pecado atrai sobre nós o castigo, e o quanto o pecado sem arrependimento, atrai a cólera de Deus.

Doce Coração de Maria, aceitai esta humilde meditação como emenda para nós e reparação ao Vosso Sapiencial e Imaculado Coração. Assim seja!

1 – Jesus abraça a cruz: o símbolo da vergonha!

“Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado”. (Is 53, 4)

Jamais um romano poderia ser condenado à morte de crucifixão, por ser símbolo máximo de desonra, reservada aos piores criminosos. O sinal da vergonha por excelência foi abraçado por Jesus, “Ele próprio carregava a sua cruz…” (Jo. 19, 17).

Bem se poderia ver naquela cruz a imagem de nossos pecados. “Quem pode, entretanto, ver as próprias faltas?” (Sl 18, 13). Quem entenderá o pecado? Este é o pior de todos os males, o ato de maior oposição a Deus. Naquela cruz estavam todos os meus pecados …

Neste passo da Paixão, Jesus toma sobre Seus adoráveis ombros os meus pecados. Entretanto, o Divino Redentor é Rei tão grandioso que transformará a cruz em objecto de elevada nobreza e distinção. Ela será colocada no alto das torres das igrejas, nas coroas dos reis e será objecto do amor apaixonado dos santos. Como é que Jesus recebeu a cruz?

A cruz está diante de Nosso Senhor que contempla aquele instrumento de dor; como Ele a acolheu ? Aceitou, já que não havia remédio; apenas aprovando o sofrimento? Não. No caminho da Paixão, Jesus nos deu um luminoso e admirável exemplo.

Conta uma piedosa revelação que, quando recebeu das mãos dos carrascos a Cruz, Nosso Senhor se ajoelha sem auxílio de ninguém, com as forças quase desaparecidas, contudo, Ele está ali com disposição, com ardor, abraça a cruz e a beija amorosamente; e, tomando-a sobre os ombros, leva-a até o alto do Calvário.

Ora, a teologia nos ensina que, para resgatar o género humano, teria bastado Nosso Senhor Jesus Cristo oferecer a Deus Pai um simples gesto, ou até mesmo um piscar de olhos, por serem de valor infinito todos os Seus actos. Portanto, uma única gota de sangue derramado durante a Circuncisão seria suficiente para realizar a obra da Redenção.

Entretanto, decretou o Padre Eterno que Ele deveria sofrer a Paixão e Morte de Cruz. O Filho, que por Sua natureza divina não era capaz de sofrer, quis assumir nossa carne em estado padecente, e não em corpo glorioso, como correspondia à Sua alma, que se encontrava na visão beatífica desde toda eternidade’. (Rev. Arautos do Evangelho nº 87, Ir. Clara Isabel Morazzani Arráiz, EP; mar.2009, p. 22)

Ponto de reflexão

Que devo eu oferecer a Jesus neste momento em que O vejo beijar a cruz ?

Ó Jesus meu! Ao ver-Vos ajoelhado para abraçar a cruz, lanço-me a Vossos pés contrito e humilhado. Quantas e inúmeras vezes Vos ofendi?

Eu me transformei no horror do universo inteiro, em todas as ocasiões que pequei contra Vós.

Perdão, Senhor, perdão! Consumi todas as minhas culpas na Vossa infinita misericórdia e transformai-as em mais uma coroa de Vossa glória.

2 – Jesus cai debaixo da cruz.

“Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades. O castigo que nos salva pesou sobre ele, e fomos curados graças às suas chagas” (Is 53, 5).

Meditação

Terríveis são os nossos crimes, eles fazem cair ao solo um Deus feito homem.

Não era longo o caminho até o Calvário, mas Jesus ainda cairá mais duas vezes mais. O esgotamento produzido pela flagelação, sucedida da coroação de espinhos, a noite sem dormir… O peso de nossas ofensas O faz perder as forças.

Bem poderia negar-Se a continuar Sua Via Sacra. Bastaria todo o ocorrido até aqui para justificar a incapacidade de prosseguir. Mas, Ele deseja ensinar-nos a nunca desanimar.
Nesse passo, Ele demonstra estar disposto a nos reerguer de nossas quedas, por piores que sejam.

Oração

Ó Jesus, castigado por meus crimes e esmagado por minhas infidelidades, quanto Vos adoro e Vos agradeço por quererdes reerguer-me de minhas quedas. Elevai-me desta situação em que me encontro, produzi em mim uma verdadeira conversão, para que eu retorne ao caminho da salvação e nunca desanime. Que eu deteste tudo aquilo que me separa de Vós, morra para o pecado e jamais desconfie do Vosso socorro.

3- Jesus cai pela segunda vez!

“…o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós. Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador”. (Is 53, 6-7)

Meditação

Nada acontece a Jesus sem um profundo significado. Tudo n’Ele é simbólico e tem sua razão de ser. Essa segunda queda acentua ainda mais a noção de quanto pesam, sobre seus sagrados ombros, os nossos pecados.

Suas forças vão enfraquecendo a cada passo e, apesar do auxílio do Cireneu, a cruz vai se tornando esmagador. Quem, ao cair pela segunda vez naquelas circunstâncias, não se deixaria permanecer no solo?

Teria chegado a oportunidade para desistir. Porém, como eram suaves aquelas quedas no caminho em comparação com os sofrimentos que ainda viriam. Ademais, quis Jesus mostrar-nos qual deve ser a extensão de nossa confiança, mesmo quando recaímos em nossas faltas. O Salvador está sempre disposto a nos perdoar e para isto é fundamental nunca desanimar. Tendo Ele assumido nossas culpas, jamais deixará de nos reerguer. Duvidar da misericórdia infinita de Deus, tão desejoso de nos perdoar e salvar, é uma ofensa ainda pior do que o próprio pecado, segundo ensina Santo Agostinho.

Oração

Uma segunda queda, ó Jesus! Vejo bem o quanto Vos pesam os meus crimes. As pedras do caminho são menos duras que meu coração. Se elas fossem dotadas de inteligência e vontade, começariam a soluçar de compaixão!

4- Jesus cai pela terceira vez!

“Também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo para que sigais os Seus passos. Carregou os nossos pecados em Seu corpo para que, mortos os nossos pecados, vivamos para a justiça” (I Pe 2, 21, 24).

Meditação

Aí está, diante de nossos olhos e sob o peso da cruz, banhada já pelo preciosíssimo e adorável Sangue do Redentor, caído ao chão pela terceira vez.

Uma vez mais a imagem de nossa miséria. Assim somos nós. Os nossos melhores actos de virtude vêm sempre embebidos das faltas que tanto atormentam a delicada e sensível consciência dos santos. “Afinal, não pecarei mais”, foi o último gemido lançado por São Luís Grignion de Montfort, antes de expirar.

Reflexão

Quantas e quantas vezes não fomos relaxados no cumprimento de nossos deveres, na prática da virtude, no evitar as ocasiões que nos levam ao pecado… Como estamos longe da perfeição, deixando Jesus ser quase esmagado sob o peso da Cruz, sem me preocupar em ajudá-Lo!

Por outro lado, Jesus nos repete: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida!” (Jo 14, 6). Ele nos dá o divino exemplo: não devemos nos apoiar nas inconsistentes promessas humanas; só no sobrenatural está nosso amparo e proteção. Nem o ressentimento pode ser a nossa lei. Se nos abandonam ou nos perseguem, e caímos sob o madeiro das decepções, jamais o desânimo nos abaterá, desde que nós sigamos o exemplo do nosso Divino Mestre: retomar a cruz e chegar ao fim.

Sempre há mais para dar, mesmo quando o fôlego parece já não existir. Essa é também uma das lições contidas nesta Estação.

5 – Jesus é pregado na cruz

“Chegados que foram ao lugar chamado Calvário, ali O crucificaram, como também os ladrões, um à direita e outro à esquerda. Pilatos redigiu uma inscrição e a fixou por cima da cruz. Nela estava escrito: “Jesus de Nazaré, rei dos judeus” (Lc 23, 33; Jo 19, 19).

Meditação

Por fim chega Jesus ao Calvário, lugar onde segundo uma piedosa e antiga tradição, Adão havia sido sepultado. Ali abundara o pecado, ali transbordaria a graça. Crucificado! Aquela mesma cruz que tanto Lhe pesara sobre os ombros seria Seu instrumento de morte. Os braços abertos para atrair a Si a humanidade inteira, sem distinção de pessoas de qualquer espécie, conforme afirma São João Crisóstomo. Já em estado pré-agonizante, enormes cravos perfuram Suas sagradas mãos e divinos pés, levando-O a contorcer-Se sob a acção da dor.

Ao pé da cruz, enquanto os soldados repartiam entre si do Divino Crucificado, Ele entregava mais Sua preciosa herança – Maria Santíssima – ao discípulo amado, num último e supremo gesto de amor filial. Também ali estavam as Santas Mulheres, dignas de admiração por sua corajosa determinação de permanecer junto à cruz, os olhos postos no Salvador, impávidas diante do ódio dos fariseus que pusera em fuga os Apóstolos.

Nossa Senhora das Dores. – Mas, exemplo sem igual nos dá a Mãe de Deus, como lembra Teófilo: “Imitai, ó mães piedosas, esta que tão heróico exemplo deu de amor maternal a seu amantíssimo Filho único; porque nem vós tereis mais carinhosos filhos, nem esperava a Virgem o consolo de poder ter outro”.

Oração Final

Eu vos dou graças, Ó Jesus meu! Reconstituo, nesta meditação reparadora, o drama da loucura de amor de um Deus por suas criaturas. Se fosse eu o único a haver pecado, Vosso procedimento não teria sido outro. Por isso, afirmo com toda certeza: Vós fostes crucificado por mim. Nada faltou para Vos fazer sofrer até o extremo da dor.

Que Vossa crucifixão arranque de minha alma os caprichos e os vícios que me desviam de Vós. Quantos apegos, quantas paixões, quantos delírios… Concedei-me as mesmas graças derramadas sobre o bom ladrão e possa eu, assim, um dia estar convosco no Paraíso.

Ave Maria, Rainha dos Mártires, cuja alma foi trespassada pelo gládio da dor.

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